sábado, 5 de dezembro de 2015

Correrias

No mundo da velocidade e da pressa, tudo deve ter uma resposta imediata.
Os prazos são sempre apertados.
Por mais que se trabalhe, ficamos sempre com a sensação que pouco, ou mesmo nada foi feito.
Em contrapartida, a ideia do ócio, criada pela civilização grega - na qual estaria residente a principal e estimuladora fonte de imaginação, pensamento e criação - é vista como um absurdo por muita gente. Sobretudo nos processos produtivos de massa.
Este conceito foi muito atacado no advento e apogeu da cultura americana. Estendo-se, naturalmente, na maioria das empresas até o presente.
Uma frase muito difundida e que se tornou clássica foi a do “time is money”. Uma associação clara de que tempo é dinheiro. Desperdício de horas jamais.
Na época de difusão destes princípios, houve inclusive muitas críticas a este controle exagerado e excessivo do tempo.
No cinema, Chaplin aborda bem esta situação, em “Tempos Modernos”.
A questão é que o tempo se passou bastante, cerca de um século, e estamos cada vez mais acelerados. Num vício frenético.
Para atender a demandas cada vez mais exigentes e rápidas, perde-se o espaço para reflexão e análises mais detalhadas de possíveis consequências de nossas ações, inclusive para nossa vida.
Reflexos desta aceleração desmedida são perceptíveis a todo o momento: um festival de erros, falhas e retrabalhos constantes. Algo que poderia ser evitado se houvesse uma avaliação prévia e mais criteriosa do todo.
Diante disso, creio que as pessoas estejam partindo para um mundo em que se erre bem mais que os já inevitáveis descompassos que cometeríamos pela vida para nosso aprendizado.
As pessoas estão sendo submetidas a uma situação de impotência, que as coloca mais vulneráveis que o convencional.
Há um agravante adicional constante e intermitente: o medo de perder o emprego.
Estamos diante de um verdadeiro drama coletivo, um fenômeno geral, que não fica só no mundo do trabalho, mas se estende também para o eixo familiar, contaminando a todos.
Outra consequência: a necessidade do ócio, tão divulgada na sociedade contemporânea por Domênico de Masi, não encontra espaço e condições adequadas para se fazer algo novo.
O tempo e a energia, que deveriam ser canalizadas para este fim, são consumidos para outros propósitos e finalidades.
Bom, estar conscientes desta situação já é um bom caminho, embora inicial, para se sobreviver a esta constante turbulência.
A racionalização dessa situação ajuda você a entender que a questão não é puramente um fato isolado, especificamente com alguém, mas algo mais coletivo.
É algo que não deve se mudar, sobretudo no curto prazo.
Logo, o ideal: tentar adaptar-se ao contexto.
Com o tempo, vai-se percebendo que não são somente fatores técnicos os elementos suficientes para este este guia de sobrevivência.
O segredo está nas sutilezas e nuances da realidade.
Para tal, é imprescindível ser o mais observador e cauteloso possível.
Uma pitada de serenidade e concentração podem ser bons ingredientes para se traduzir a realidade, e perceber as subjetividades e entrelinhas que nos acercam.
Com esta análise criteriosa, podemos, naturalmente, tomar ações menos propícias aos erros, neste mundo da correria e exigência de pressa na tomada de constantes decisões.

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