domingo, 14 de maio de 2017

Despedida

Ao longo da vida, muitos feitos.
 Sonhos realizados em todos os sentidos.
 No casamento, com os filhos, netos...
 Na politica com as obras realizadas materialmente.
 Foi uma pessoa que fez muita caridade, e amigo de muita gente humilde.

 Conviveu com os altos e baixos da vida: alegrias, realizações.
 E não por menos ... Sofreu na pele os desprezos, prejuízos, perseguições, traições.
 Tudo isso de gente muito pessoas.

 Como pai, um grande companheiro.
 A distância física, devido às circuntâncias da vida entre nós, e a diferença de idade não foram capazes de interferir no nosso relacionamento.
 Pessoa que muito me incentivou e me deu forças para estudar e andar sozinho pelas estradas da vida.
 Seu suporte foi enorme, e superou suas limitações pessoais e financeiras.

 Como esposo, a presença do companheiro fiel.
 E de uma pessoa que amava muito minha mãe.
 Isso era inclusive verbalizado incontáveis vezes.
 Adorava o dia 25 de janeiro, aniversário de casamento.
 Longos e longos anos festejando esta data comemorativa.

 Em muitos lugares que eu for, os lugares ficarão para sempre na lembrança.
 E me farão lembrar exclusivamente do senhor.
 Momentos felizes vividos juntos.
 Ruas, esquinas, locais variados, mercados, prédios...
 Haja lugares... Seja aqui, em BH, SP, Campinas e arredores.
 Na música, uma grande influência pela qualidade.
 Foi com meu pai que ouvi as primeiras músicas de bolero, chorinho e tango, além de muitos  clássicos fora destes gêneros.
 É... as letras das musicas vão transcender... Terão uma história para contar...
 La Cumparsita, de Gardel.
 Ave Maria...
 Tema de Lara, trilha sonora de Doutor Jivago.
 Na relação com seus pais, um enorme apego. Não se separou nem mesmo depois de casado...
 Honrou a todo preço o que prometeu ao meu avô e minha avó, com muito respeito e fidelidade.
 Já no fim da vida, minha mãe conta que meu avô, sentindo que iria partir a qualquer momento, incomoda-se com a viagem do meu pai.

 Homem de palavra, que sustentava o que professava.

 Pessoa de um coração mole, capaz de derramar lágrimas com muita facilidade, e de pedir perdão incessantemente.

 Financeiramente, não foi um homem de bens, e não acumulou patrimônios, tesouros.
 Sua maior herança foi nosso ecnaminhamento para a educação e os incentivos profissionais, mesmo que não tivesse noção do que nossas áreas significavam tecnicamente.
 Acabamos aprendendo, eu e minhas irmãs, a caminhar com as próprias pernas.
 Aprendemos a pescar, e não esperar pelo peixe.
 Incontáveis vezes repetia que, as coisas e feitos que conseguiu foi por insistência: acredito que isso deixou uma marca sua no meu inconsciente, a da iniciativa e persistência.
 Foram sementes que ele lançou no nosso comportamento, e que enraizaram no nosso modo de ser.

 Nos últimos tempos, o corpo já fraquinho e, bem decadente, mostrava o sinal de desgaste do tempo, e da vida: rugas, cabelos brancos e escassos, coluna retorcida... comportamento áereo.

  A sensação que se passava era de ter perdoado a si mesmo e aos outros. Estava muito leve neste sentido, já nem mais reclamava.

 Sobre suas dores, confesso que estavam no corpo, e não na alma.
 Sem queixas, reclamações.
 Estava perceptível sua serenidade...

 O coração esteja preenchido de leveza e despojamento. Ele estava cheio de algo que muitos buscam a vida inteira e não conseguem. Ele conseguiu isso.

 Olhando para ele nos últimos tempos, via se uma situação diferente daquelas vividas ao longo da vida.
 E aquele homem que no passado era proativo, de iniciativa e ansioso, agora se mostrava calmo, sereno ...

 Num momento que pode ser comparado ao ciclo de vida de um rio que, depois de percorrer remansos e corredeiras agora se mostra brando e sereno na planície, no momento final de se entregar ao mar.

 Nestes últimos encontros, um drama sem medida inundava meu coração.
 A cada nova despedida, um pressentimento, uma angústia do ultimo adeus.
 O sentimento de que o coração esta partindo, mas deixando o corpo para trás.
 Uma dolorosa sensação de ser sempre o ultimo encontro...
 O ultimo olhar, o ultimo aperto de mãos, o ultimo abraço...

 Hoje há uma certeza, a de que não nos vejamos mais fisicamente. Mas isso não é impeditivo para continuarmos a nos encontrar no mundo dos sonhos. 

 Agradeço a Deus por ter me dado o Senhor como Pai.
 É e sempre será uma honra.

 Hoje é sua partida, amanhã a de cada um de nós.
 Que Deus o abrace com sua misericórdia, com seu perdão
.
 Espero ter cumprido meu papel de filho, assim como o Senhor cumpriu o seu de pai.


Nenhum comentário:

Caminhada

Busca por Deus, através da Eucaristia. Na procura incessante pelo sagrado,  existe um coração, exposto de misérias humanas, fadado às quedas...