domingo, 9 de outubro de 2016

Lembranças

Na ausência, a presença de outrora ainda dá sinais de quem um dia partiu.
Saudosismo e nostalgia pairam no ar.
Reflexões ao se abrir o baú de memórias.
Não há como não se envolver com a história de forma superficial.
Objetos distribuídos pela casa ainda reforçam esta existência, mesmo com o transcorrer dos anos.
Integrada com a sala, a cristaleira intacta é um passaporte para evadir-se no tempo.
No cardápio, alguns hábitos alimentares e receitas se mantêm.
Na janela, marcas sutis nas paredes deixaram resquícios de quem já esteve por lá ao longo de uma vida.
A tramela ainda existe, mas agora tem suporte adicional para reforçar a segurança.
O espaço cativo da cadeira agora se mostra desocupado, e ficou em segundo plano.
Pelo cantinho da parede, ainda resistente, o oratório está presente, e demonstra a contínua demonstração de fé e devoção aos céus.
A foto na penteadeira, conjuntamente às imagens, traduz um olhar atento, uma presença intermitente e viva ali quando deste momento.
Neste processo natural, não se pode falar, mas há uma profunda troca de olhares com quem já se foi, e diálogos se estabelecem. Pedidos e intercessões sempre se realizam.
Ao silêncio da sala, ventos uivam de todos os lados da casa, inclusive pelas frestas e gretas em expansão...
Na busca minuciosa dos sons, já não ecoam os pés que há tempos se arrastavam pela casa.
Nos armários, roupas já se foram, sendo doadas a muita gente necessitada.
No quarto, a cama já não está mais disponibilizada no mesmo local.
Ao longo da noite, o relógio não faz mais barulhos como dantes, e não é necessário mais dar corda no mesmo diariamente.
Com o transcorrer de anos, a constatação transcendente de um amor maternal a quem, biologicamente, não era.
No coração, a certeza de que, independente das ausências e, apesar de tudo, a vida deve continuar.

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Busca por Deus, através da Eucaristia. Na procura incessante pelo sagrado,  existe um coração, exposto de misérias humanas, fadado às quedas...