terça-feira, 18 de outubro de 2016

Campinas - Bairro Vila Industrial

Um dos bairros mais antigos da cidade.Está ligado diretamente ao surgimento da cidade.
O seu processo de expansão e crescimento de forma mais expressiva está ligado à construção das ferrovias Paulista e Mogiana, que foi um marco expansionista dos séculos 19 e 20.Isso foi concomitante aos primórdios da industrialização do país, no qual Campinas se destacava como a principal cidade do interior paulista.
Num tempo em que a cidade era bem menor, era lá que ficava uma parte expressiva da periferia, com seu conjunto de cortiços bem famosos.
No passado, a própria estruturação física da linha ferroviária separava a cidade em praticamente dois mundos. Esta divisão era percebida até no aspecto social.
Conversando com pessoas que já residiam na cidade há muito tempo, mais especificamente em períodos que excedam a mais de meio século, havia um termo muito usado para se indicar o local de residência: “Você mora de qual lado da estação?”.
O próprio questionamento já assumia um caráter discriminadamente social.
Ao longo do tempo, foram sendo erguidas casas no bairro, de moradores que vinham de outras regiões do país e imigrantes, com destaque especial para os italianos, portugueses, sírios e libaneses.
Aos que já vinham do interior, muitos estavam abandonando o campo para viver na cidade, deixando assim a vida rural e agrária. Começa então a crescer uma cidade que depois se destacaria no cenário nacional.
É também, evidentemente, neste período, um dos primeiros e pequenos ciclos de êxodo rural no país.Com este crescimento, foi surgindo, naturalmente, o bairro.  
Analisando-se mais detalhadamente na história da cidade, constam nos autos da mesma, que a construção de casas neste bairro foi por uma iniciativa maior da aristocracia local, que eram os detentores dos poderes políticos e econômicos da época.Neste grupo, destacavam-se alguns pequenos empresários emergentes, que começavam a montar fábricas na cidade. Mas quem se dominava, mais expressivamente, eram os grandes cafeicultores, que tinham sua riqueza obtida do chamado Ouro Verde.
Estes aristocratas construiram as casas e, naturalmente, as vilas para alugar as mesmas aos operários da construção ferroviária e suas famílias.
O projeto incluía casas com tamanhos variados, para abrigar famílias de tamanhos distintos.
A arquitetura seguia uma tendência popular para a época. Em sua grande maioria, eram de somente um andar, mas havia algumas maiores de dois andares: os sobradinhos.
Dentre as vilas construídas, três merecem um destaque especial: a Manoel Dias, Manoel Borges e Vila Riza.
As Vilas Manoel Dias e Manoel Borges resistem ao tempo, e tem se discutido o tombamento cultural desta área na cidade, bem como uma eventual revitalização deste reduto. Ao passo que a Vila Riza, já não existe mais. Os seus poucos vestígios e ruínas, quando no momento de sua total destruição, deram espaços à construção do Terminal Ramos de Azevedo.
Andando recentemente pelas ruas da região, pude tirar algumas conclusões.
Numa comparação histórica: se olharmos o bairro com um foco social, e de maneira mais generalista, creio que o bairro continue se mantendo, ao longo das décadas, com uma mistura de famílias de classes sociais populares, misturada com a dos emergentes.
Sobre o trânsito…
Este já se “modernizou”, tornando-se caótico nos horários de maior fluxo de veículos. Neste aspecto, o sossego do passado dá lugar ao agito da vida contemporânea. Destaque especial para a Rua Sales de Oliveira, que é a mais conhecida do bairro. Esta no final do dia fica bem congestionada.
Nas construções atuais, percebe-se uma mistura do antigo e do novo, sem muita  preocupação real, na prática, com o aspecto patrimonial. É possível ver nitidamente casas decadentes, que resistiram ao tempo, mas que aos poucos vão sendo demolidas pela expansão imobiliária, com os conjuntos residenciais. Conjuntos estes que são erguidos sem uma completa análise dos seus impactos na região, como o reflexo imediato no trânsito, entre outros.
Saindo um pouco do bairro, e pensando mais na cidade, creio que algo também não tenha mudado. A separação da cidade em micro regiões e, naturalmente, em classes sociais. Esse conceito está enraizado, perceptivelmente, na essência da cidade, desde seu nascimento. Basta estudar e facilmente se chega a estas conclusões.
Campinas não é uma cidade que integra suas classes sociais. Há classes sociais vivendo em mundos separados e completamente desintegrados.
O nascimento da linha ferroviária, que separou a cidade em dois mundos lá no passado, foi tomando formas diferentes nas décadas seguintes, mas com a mesma tendência e princípio de separação social.
Isso pode ser percebido em décadas seguintes quando a cidade ultrapassou a Rodovia Anhanguera, depois a dos Bandeirantes… Estes marcos serviram mais uma vez para separar a cidade, e naturalmente as pessoas.
Diante de tudo isso, acredito que seja muito complexo pensar, hoje em dia, em qualquer tentativa de integração desta cidade que sempre foi, histórica e essencialmente, desintegrada.

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