quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Vida simples

Na cozinha, o chão de cimento queimado, em tom de vermelho, com leves fissuras.
Pela madrugada, o despertar do galo já tirou muita gente da cama.
Nada fora da rotina, trata-se de um hábito.
No assoalho, a lenha rachada já está preparada para a demanda do dia.
Os estalos de madeira no fogão a lenha aquecem a cozinha e os cômodos mais próximos.
Ao longo do dia, o fogão praticamente não esfria.
Na aurora, os músculos já vão se aquecendo em ambos os sentidos: físico e térmico.
Na essência da casa, um propósito não formalizado, mas implícito: a exaltação do que é essencial.
A vida ganha destaque num cenário rústico e humilde.
Na despensa, uma prateleira organiza os alimentos.
A carne conservada na banha de porco está pronta e convidativa para quem, eventualmente venha visitar.
Ovos de galinha em excesso evocam a necessidade de utilizá-los com alguma iguaria. E caso a receita seja maior que a demanda da casa, não tem problema, manda-se para os vizinhos mais próximos, segundo princípios culturais da partilha e boa vizinhança.
O tacho de cobre, entregue depois do conserto, e abóboras a seu redor sugerem também que está na hora de fazer mais um doce no fim da tarde. Neste caso, havendo um tempinho, já é bom amolar o canivete picador de fumo para descascar as mesmas. E não havendo açúcar ou rapadura suficiente, melhor já comprar no armazém de secos e molhados.
Na varanda de fora da casa, o moedor de café está pronto para fazer mais uma moedura pela manhã.
Vasilhas areadas na parede e as xícaras esmaltadas aguardam o primeiro café da manhã, coado na flanela higienicamente lavada.
O contato do pó com a água fervente exala um perfume de cafeína pelos arredores.
Na parede, sinais que se deve passar barro branco novamente, posto que a fumaça do fogão escurece a mesma. O asseio preza por mais uma limpeza.
Penduradas no alto, vasilhas areadas ganham destaque, produzindo reflexos de limpeza. Brilho este que surge depois de muito esforço na lavagem com o sabão de barra, feito com abacate, soda cáustica e sebo de porco.
Ao longo do dia, trabalho pela frente.
E as coisas acontecem por uma lógica e fluxos naturais, há esforço e vontade das pessoas.
No fim do dia, depois de um banho e do jantar, pausa para conversas na cozinha.
Em paralelo, tarefas leves vão sendo executadas, concomitantemente, dentro da casa.
Nesta hora diminui-se consideravelmente o ritmo, mas ainda não se parou.
Catam-se os grãos do feijão, do arroz...
Selecionam-se os melhores grãos/sementes para o plantio...
Já de noite, mas não tão tarde, encerra-se mais um dia, de trabalho e realizações.
O corpo cansado (fisicamente) tem, no hábito, elementos e tarefas suficientes para preencher a mente.
O modesto e o simples ganham notoriedade.

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